"No princípio criou Deus os céus e a terra."

"Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus. Sl.90:2"

"Dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade" Sl.39:4.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

"Leitura que... sintoniza"


Hoje, quarta-feira, véspera de um feriado no Brasil, eu me preparo para uma jornada de trabalho em casa. Concluir os trabalhos pendentes, entregar diários e toda essa papelada necessária.
Um certo acontecimento nessa segunda-feira me fez pensar bastante na minha vida profissional e consequentemente em minha vida como um todo. O que tenho feito tem realmente contribuído para o crescimento dos que estão ao meu redor? Até onde estou disposta a superar minhas próprias debilidades em prol do outro e de mim mesma? Até onde tudo vale à pena? ... E pensando nisto, quero registrar um texto de Domingos Pellegrini muito bom para refletir. O texto tem como título Antes e Hoje e vou escrevê-lo aqui por que revela muita verdade e tudo é fruto da observação do poeta. Saber parar e observar é uma atividade de poucos:
Antes e Hoje

Antes usavam chapéu, hoje usam boné. Virado para trás. As mulheres usavam anáguas debaixo das saias. Hoje as meninas compram anáguas no brechó, para usar como saia ou saída de piscina. Antes, o vô morria, a vó vestia preto e só saía de casa para ir à missa ou para ver filme do Mazzaropi. Hoje, o vô morre, logo a vó já tem namorado, e vão dançar, tomar sorvete e passear de mãos dadas como antes só os moços faziam. E antes se passeava nas ruas e praças. Hoje se passeia nos shoppings. Nas esquinas havia camelôs que corriam dos fiscais. Hoje os camelôs tomam as praças e enfrentam os fiscais. Os carros tinham radiadores. Hoje têm computadores. Entrava um idoso no ônibus, um jovem oferecia o lugar. Hoje, alguém oferece o lugar, um jovem senta antes do idoso. [...] Antes, o telefone tocava, alguém atendia logo. Hoje só atendem logo se for celular. Os telefones eram pretos, depois passaram a ser cinzentos. Hoje são coloridos, e a mesma transformação se deu com as gravatas. Mas as gravatas não são confiáveis: eram grossas e escuras, passaram a ser finas, voltaram a ser grossas. Antes as sandálias eram franciscanas, agora são havaianas. Antes, só se via barriga de mulher na praia ou na piscina. Hoje... Antes, só piratas usavam brincos. Hoje só há CDs piratas.[...] Antes, os jovens namoravam. Agora ficam. Namoros começavam nas praças e filas de cinema. Hoje começam e acabam na internet. Depois de namorar, noivava-se, depois casava-se. Agora, juntam-se. Antes, os casais separavam-se dramaticamente. Hoje, acabam a relação tranquilamente. Ou abrem a relação. [...] Os restaurantes eram todos à La carte. Hoje são quase todos self-service , e os bancos também. A hora da refeição era sagrada e tinha conversas demoradas. Hoje é rapidinha e a conversa é descartável. Lasanha  era só da mãe ou da vó. Hoje vem em caixa no supermercado. Os cachorros comiam restos e ossos, e quase não tinha doenças. Hoje, comem só ração balanceada, vitaminada e aditivada, e têm mais doenças. Nas escolas os professores falavam e os alunos ouviam. Agora os professores às vezes conseguem falar.[...] Diante de descalabros e absurdos, as pessoas se espantavam e perguntavam “onde é que isso vai parar?”. Agora, pararam de se espantar. A revista mais lida tinha notícias. Hoje tem caras. Só havia bailes em clubes. Hoje só há baladas em boates. Muitas músicas tinham ritmo forte. Hoje, muitas músicas só tem ritmo. Carros trepidavam nas estradas de terra. Hoje trepidam com o som. Você ligava a tevê domingo, matava tempo. Hoje, você morre de tédio. As velinhas do bolo de aniversário apagavam com o sopro do aniversariante. Hoje, voltam a acender sozinhas, para todo mundo poder soprar. Mas o brigadeiro continua o doce preferido nos aniversários de criança. Deve fazer lobby. E, por enquanto, os domingos continuam caindo no fim de semana.

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