X Língua Portuguesa –
Opinião, “apenas!”
Quando se começa a estudar a
origem da Língua Portuguesa nos reportamos ao Latim, mas especificamente ao
Latim Vulgar.
Latim Vulgar é a outra esfera do
Latim conhecida como Latim Clássico, esse por sua vez era a língua falada pelo
que podemos chamar de classe de nível cultural e social elevada. Os demais
falantes, ou seja, os falantes do Latim Vulgar era a classe conhecida pelo
vocabulário reduzido sem muitas preocupações com as normas gramaticais tanto na
escrita quanto na fala.
A classe conhecida como menos
favorecida pode ser chamada de uma classe prática, no sentido de levar a vida
sem ter tantas preocupações durante esse percurso. Em outras palavras, viver seria muito mais
interessante do que preocupar-se com a forma que a vida seria conduzida com ou
sem considerações gramaticais.
É notadamente possível reconhecer
esse estilo de vida e, consequentemente a conduta gramatical, seja na linguagem
escrita ou falada, em nossos dias. Não é difícil notar que as classes
consideradas “menos favorecidas” são exatamente
as que menos possuem preocupações com as questões gramaticais de sua
língua materna.
Sejam por razões de falta de
oportunidade ou falta de uma conduta intelectual a favorecer a inserção dessa
preocupação, essas classes acabam por considerar a vida prática muito mais
vantajosa que a vida reflexiva no sentido da preocupação com a língua. E, por
que não dizer também que esse tipo de conduta leva essas classes a
considerar a educação menos importante que ter um trabalho que garanta ou que
se converta em pecúnia.
Fazer parte de uma classe “menos
favorecida” deve ser muito ruim mesmo, afinal de contas viver ponderando tudo e
todos dever ter mais vantagens que apenas viver!
A classe menos favorecida
certamente não se servia de todas as “vantagens” que a classe de nível mais
elevado tinha acesso. Ora, se sou privado de me socializar por razões de “escassez
de cultura”, financeiras ou seja lá o motivo que me impunham, não preciso ser
obrigado a me desfazer de um bem que é meu por direito e o qual não me pode ser
subtraído. Esse bem, meus queridos, é a Língua.
Não quero entrar muito em
questões jurídicas, mas nossa Carta Magna reza que temos liberdade de
expressão, obviamente que esse ou todos os textos referentes a matéria, nem de
longe remonta ao latim vulgar e das considerações que estão sendo feitas aqui.
Mas posso, todavia, lembrar que se existe um curso de nível superior que
valoriza o Latim por ser uma língua morta e, portanto livre de dinamismo ou
variações, é o curso de Direito.
Bem, voltando às privações. Nada
mais divertido do que entreter-me com minha própria língua, uma vez que sou
privado de entreter-me com a sociedade que me considera um bárbaro sem cultura,
simplesmente por eu não obedecer a uma norma puramente gramatical.
A liberdade de expressão me
confere competência para dinamizar a língua e fazer parte do que chamamos em
gramática da Língua Portuguesa como Estrutura e Processos de Formação de Palavras.
Se não tivéssemos, por exemplo, a Redução
ou Abreviação não teríamos
condição de chamar a palavra Motocicleta
de apenas Moto, ou ainda, Fotografia de apenas Foto. E o que seria das piadas ou dos
entretenimentos das crianças se não fossem as Onomatopeias?! Saber o som de
algo, poder fazer com a boca utilizando-se a Língua que me foi internalizada e ser
privado disso me traria uma tristeza. Ou será que me traria uma oportunidade?
Certamente que a Língua não seria
tão dinâmica se houvesse tais privações!
E o que dizer das possibilidades
fonéticas? Já pensou se não tivéssemos oportunidade de brincar com os
trocadilhos, fazer piadinhas com as variações linguísticas, dinamizar a língua partindo do meu conhecimento de mundo como
premissa? Isso seria com certeza “bárbaro”
demais!
No livro que citei como sugestão
de leitura de entretenimento, Piadas Nerds, Carol Zoccoli, escreve e brinca com
as possibilidades fônicas nas suas piadas de ciências humanas. Por exemplo:
O que é um pontinho marrom no
Brasil em 1500?
R: Pedro Álvares Cabrown.
Como os comunistas se despedem?
R: “Até Marx!”
E como os petistas se
cumprimentam?
R: “Bom Dilma!”
Percebemos que nada disso seria
possível se nós os falantes da Língua Portuguesa somado ao nosso conhecimento
de mundo não pudéssemos dinamizar a Língua e usar isso para nosso próprio
entretenimento.
O nome de Rafinha Bastos foi
utilizado no título porque acompanhei pela TV (abreviação de televisão) e pela
Internet toda a polêmica com relação a uma piada feita e considerada infeliz.
Desde já, é bom que se diga que o blog Marcmel não se divulga nem contra nem a
favor. Por isso que o título cita a Língua Portuguesa, porque o interesse maior
é divulgar a Língua dentro desse contexto e levar a uma reflexão do que seria
justo e injusto, o que é dinamismo na língua e o que não é, que classe deve ser levada em consideração ou não. Ou
seja, os infelizes são todos os pertencentes à classe elevada ou lá também
existe gente que sabe da possibilidade
de se entreter com a Língua? Ou ainda, somente os felizes estão na classe “menos
favorecida?”
É claro que dentro dessa polêmica
muitas outras áreas do conhecimento podem ser levantadas e discutidas, mas por
enquanto queria apenas registrar o que me veio à mente depois de tudo isso com
relação à Língua Portuguesa.
Fica minha pergunta: Os bárbaros
não levavam em consideração as normas gramaticais por serem bárbaros ou eles
eram bárbaros por não respeitarem a gramática?
Num século onde a tecnologia se
expande de maneira “bárbara” e a humanidade ganha cada vez mais distância, os
índices de tristeza, depressão, angústia, escassez não de um sorriso, mas de
motivos para sorrir tem crescido absurdamente. Você já notou que personagens
famosas e turistas do mundo todo têm apreciado cada vez mais a brasilidade de
nossa terra? Os noticiários pelo menos informam que todos dizem que somos um
país de gente feliz. Acho que pode até existir escassez de sorriso, mas motivos
para sorrirmos acho difícil.
Se fizéssemos uma enquete e
perguntássemos qual ser humano passou a ser mais feliz depois que aprendeu a
sorrir de si mesmo, quais seriam as porcentagens?
O povo é o mesmo, a Língua e as
variações são as mesmas, mas que dizer do mundo e da Língua que rege cada
pensamento, cada ser humano? Até onde essa “liberdade” é de fato uma “liberdade” se
vez ou outra vou ferir a “liberdade” de alguém que ainda não abriu “liberdade”
para que a” liberdade” se fizesse de fato?
Se sou Latim Clássico, o sou com
minhas ponderações e com a abertura de liberdade que me convém nesse convexo.
Se sou Latim Vulgar, o sou também com minhas liberdades e meu “retrocesso”. Me resta saber qual dos dois respeita mais a
possibilidade da liberdade que me é conferida.
Tu e Eu – Luís Fernando Veríssimo
Somos diferentes, tu e eu.
Tens forma e graça
e a sabedoria de só saber crescer
até dar pé.
E não sei onde quero chegar
e só sirvo para uma coisa
- que não sei qual é!
És de outra pipa
e eu de um cripto.
Tu, lipa
Eu, calipto.
Gostas de um som tempestade
roque lenha
muito heavy
Prefiro o barroco italiano
e dos alemães
o mais leve.
És vidrada no Lobão
eu sou mais albônico.
Tu,fão.
Eu,fônico.
És suculenta
e selvagem
como uma fruta do trópico
Eu já sequei
e me resignei
como um socialista utópico.
Tu não tens nada de mim
eu não tenho nada teu.
Tu,piniquim.
Eu,ropeu.
Gostas daquelas festas
que começam mal e terminam pior.
Gosto de graves rituais
em que sou pertinente
e, ao mesmo tempo, o prior.
Tu és um corpo e eu um vulto,
és uma miss, eu um místico.
Tu,multo.
Eu,carístico.
És colorida,
um pouco aérea,
e só pensas em ti.
Sou meio cinzento,
algo rasteiro,
e só penso em Pi.
Somos cada um de um pano
uma sã e o outro insano.
Tu,cano.
Eu,clidiano.
Dizes na cara
o que te vem a cabeça
com coragem e ânimo.
Hesito entre duas palavras,
escolho uma terceira
e no fim digo o sinônimo.
Tu não temes o engano
enquanto eu cismo.
Tu,tano.
Eu,femismo.
Espero que tenhamos comentários e
que sejam feitas reflexões sobre o
assunto.
Marcmel.
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