"No princípio criou Deus os céus e a terra."

"Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus. Sl.90:2"

"Dá-me a conhecer, Senhor, o meu fim e qual a soma dos meus dias, para que eu reconheça a minha fragilidade" Sl.39:4.

domingo, 4 de abril de 2010

"História de Principiante"


Essa semana estava lembrando dos meus primeiros dias como "tia", e isso aconteceu por volta do segundo semestre de 2005. Fui lecionar  numa escola de educação infantil e trabalhei nas séries iniciais. Lembro-me de uma cena que me marcou muito e até hoje a guardo no coração, embora eu não me lembre mais os nomes dos "anjinhos".
Estava eu empolgada no quadro escrevendo e explicando para uma turminha com pouco mais de 10 alunos, numa salinha toda decorada, perfumada e um clima totalmente de paz e de recordações da infância. De repente sinto alguém puxando a barra da minha saia e quando olho para atender, percebo num ar de desepero que meu aluno está com um dente na mão e a boca sangrando (quase morri de susto!!). Olhei pra todo aquele sangue na boca dele e desesperada comecei a andar até a porta com a intenção de ir a diretoria, mas num surto que me fez parar e pensar, sem experinência alguma, como poderei convencer a diretora que sou uma professora que domina uma classe, se no primeiro percalço corro para a direção?? E, naquele momento percebi que meu aluninho precisava muito mais da minha segurança própria do que a minha preocupação com o meu profissionalismo. E eu naquele desepero suspirei e decidi que devia tomar uma atitude eficiente e eficaz. Foi então, que meus alunos de apenas 4 ou 5 anos me passaram um linda lição que muito tempo depois se tornou tema da minha monografia. As crianças olhando aquela cena da professora nervosa e do aluno com um dente na mão, se aproximam devagar fazem um círculo ao redor dele e comentam com a voz mais doce da terra: Não chore!! Entrega pra fadinha.!!
Eu rodei o mundo procurando na minha cabeça o que era "Entregar pra fadinha" ..e nada..O certo é que isso convenceu o garoto e ele parou de chorar, e entre olhares penetrantes, sem mais palavra alguma, em completa conversa silenciosa, todos concordaram entre si que essa seria a melhor atitude a tomar naquele momento. O que mais me surpreendeu, foi a tamanha sinceridade e principalmente seriedade com que eles falaram da tal fadinha. Essa cena até hoje guardo na memória, aprendi muito nesse dia. Alguém que esteja lendo pode pensar: Mas essa "tia" aprendeu que deve mentir para acalmar as crianças?? Não. Absolutamente não. Aprendi que criança tem uma linguagem própria, sensível e sincera. Aprendi nesse dia quão frágil é uma criança e quanta responsabilidade temos nós educadores  e responsáveis desses seres tão maravilhosos e brilhantes. Nesse dia também fiz questionamentos que me ajudaram a pensar ou repensar no trabalho que desenvolvo. Quão frágil é uma criança a ponto de receber da pontinha da varinha da fada o silêncio do choro que a "tia" não soube consolar, tão frágil a ponto de ver segurança nos olhos sinceros dos coleguinhas ainda tão inocentes, abstendo-se do nervosismo da "tia"   que embora tão "grande", ainda tão insegura.
Um bom tempo depois trabalhei em minha monografia a questão dos contos de fadas, fontes de apoio na aquisição da leitura. E, vou deixar registrado aqui alguns trechos do livro de Bruno Bettelheim(Conceituadíssimo Psicólogo Infantil), A Psicanálise dos Contos de Fadas, que se esclarecem melhor as minhas palavras supracitadas. 

..."A aquisição de uma compreensão segura do que o significado da própria vida pode ou deveria ser é o que constitui a maturidade psicológica" p.9

"...Nada é mais importante do que o impacto dos pais e das outras pessoas que cuidam da criança..." p.10

"Infelizmente, muitos pais querem que as mentes dos filhos funcionem como as suas - como se uma compreensão madura de nós mesmos e do mundo e nossas ideias sobre o significado da vida não tivessem que se desenvolver tão lentamente quanto nossos corpos e mentes." p.9

"A criança à medida que se desenvolve, deve aprender passo a passo a se entender melhor; com isso, torna-se mais capaz de entender os outros e, eventualmente, pode se relacionar com eles de forma mutuamente satisfatória e significativa." p.10

"Nossos sentimentos positivos nos dão força para desenvolver nossa reacionalidade; só a esperança no futuro pode sustentar-nos nas adversidades com que inevitavelmente nos deparamos."p.10

"Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve entretê-la e despertar a sua curiosidade. Contudo, para enriquecer a sua vida, deve estimular-lhe a imaginação: ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas emoções; estar em harmonia com suas ansiedades e aspirações; reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir soluções para os problemas que a pertubam. Resumindo, deve relacionar-se simultaneamente com todos os aspectos de sua personalidade - e isso sem nunca menosprezar a seriedade de suas dificuldades mas, ao contrário, dando-lhe total crédito e, a um só tempo, promovendo a confiança da criança em si mesma e em seu futuro." p.11

"A criança encontra esse tipo de significado nos contos de fadas..." p.12

"Aplicando o modelo psicanalítico da personalidade humana, os contos de fadas transmitem importantes mensagens à mente consciente, à pré-consciente e à inconsciente, seja em que nível for que cada uma esteja funcionando no momento."p.12

"... A criança adapta o seu conteudo incosciente às fantasias conscientes, e isso a capacita a lidar com esse conteudo..." p.14

"Minha esperança é que uma compreensão apropriada dos méritos únicos dos contos de fadas induzirá pais e professores a de novo conferir-lhes o papel central que tiveram durante séculos na vida da criança."p.13 




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